quinta-feira, 5 de abril de 2007

Trilogia do Silêncio - por Mário Franciscon


A Trilogia do Silêncio, de Ingmar Bergman


A Trilogia do Silêncio tem como temas principais, os quais são muito caros a toda obra de Bergman, a impossibilidade de comunicação entre as pessoas e o questionamento da existência de Deus. Segundo o diretor, “cada filme [da trilogia] tem um momento de contato, de comunicação humana: na frase ‘papai falou comigo’, no final de “Através de um Espelho”; o pastor conduzindo a missa na igreja para Martha, no final de “Luz de Inverno”; o garotinho lendo a carta de Ester no trem, no final de “O Silêncio”. Um diminuto mas crucial momento em cada filme. O que mais importa na vida é conseguir fazer esse contato com outro ser humano. Do contrário você está morto, como muitas pessoas hoje estão mortas. Mas se você puder dar esse primeiro passo em direção à comunicação, em direção à compreensão, em direção ao amor, então não importa o quanto o futuro possa ser difícil – e não tenha ilusões, mesmo com todo amor do mundo, viver pode ser diabolicamente difícil – então você está salvo. Isso é tudo que importa, não é ?”

Seguem as impressões e avaliações de cada um dos filmes:

Através de um Espelho (Såsom I En Spegel,Ingmar Bergman, 1961)
Harriet An
dersson está maravilhosa como a frágil Karin que, afetada por crises de loucura, entra em conflito com seus familiares (seu pai, seu irmão e seu marido), durante as férias numa ilha distante. Um drama psicológico intenso, com poucos personagens, em que Bergman disseca o processo de degradação de uma família, além de tratar da existência (ou não) de Deus. A fotografia de Sven Nykvist em preto-e-branco é algo de excepcional, e a música de Bach casa perfeitamente com o clima das imagens. Um degrauzinho abaixo dos maiores filmes que assisti dele (Morangos Silvestres, O Sétimo Selo, Gritos e Sussurros, Fanny e Alexander e Persona), mas melhor que quase tudo que já tive oportunidade de ver. nota 9.


Luz de Inverno (Nattvardsgästerna, Ingmar Bergman, 1962)
O tema é o
mesmo do filme predecessor: o questionamento da existência de Deus e de como Ele se revela (ou não) ao homem. Porém, se em "Através..." a fé e a dúvida são permeadas pela insanidade da protagonista, em "Luz..." Bergman privilegia a amargura e a desesperança do pastor luterano Tomas Ericsson (Gunnar Bjornstrand), incapaz, por conta de seus próprios dilemas religiosos, de ajudar um fiel a superar seus conflitos existenciais. Mais árido e melancólico que o anterior, "Luz de Inverno" é outro grande filme do diretor sueco. nota 8,5.






O Silêncio (Tystnaden, Ingmar Bergman, 1963)
O último filme da trilogia e o mais polêmico, pelo fato de possuir cenas com forte apelo erótico (o diretor foi muito criticado por parte das autoridades suecas, e por grupos religiosos). Desta vez, Deus está ausente (literalmente) e o que predomina é a ausência de comunicação entre as pessoas. Duas irmãs viajam de volta à Suécia acompanhadas do pequeno filho de uma delas. Param em um hotel quase deserto, aparentemente em território finlandês, onde a língua é um entrave para a comunicação. Ester (Ingrid Thulin) é a mais velha, uma tradutora solteirona bem sucedida que tem sérios problemas de saúde (inclusive alcoolismo), e Anna é a mais jovem e libertária, mãe de Johan. As irmãs possuem sérios problemas de relacionamento. Desta feita, Bergman investe pesado na sensualidade (de Anna), na amargura (de Ester) e na imaginação lúdica (de Johan), com maestria, mas na minha opinião sem o mesmo brilho dos anteriores. nota 8.



Para saber mais sobre Ingmar Bergman:
http://www.terra.com.br/cinema/favoritos/bergman.htm

* Agradeço muito ao Mário (profundo conhecedor de Cinema, amigo e tbm moderador do grupo cinemafantástico) por ter me enviado as críticas.

Um comentário:

Dewonny disse...

Ñ vi nenhum desses, mas algum dia eu irei de vê-los...